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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Lápis

Escrever eu não escrevo, mas de vez em quando meus dedos surgem trêmulos e secos segurando carvão - poesia - qualquer eventual desejo pela arte. Tão imprevisível quanto a minha vontade de ser alguém.

À Flor da Pele

À Flor da Pele
Ando tão ferida que mesmo se tigres dilacerassem-me as entranhas, seria como anestésicos com garras. Já me acostumei com a dor, mas com a dor de não sentir nada. Isso me incomoda um pouco, ao contrário nem me daria o trabalho de escrever.
Vago agonizando pétalas porque espinhos fazem de mim o que eu sou: um fantasma!
Talvez eu seja a rainha de espadas, caminhando no limbo. A diferença é que ela aprendeu a sentir. Meu coração sequer bombeia sangue - um misto de caos e solidão transitando ao luar, sem a menor perspectiva de curar-se. À flor de pele, seguindo no nada, existo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Flores

Há uma rosa seca no meu quintal
um sufoco recluso no meu fôlego
conto errante no meu peito, um lamaçal
e um verso solto dentro do miolo;
Há uma rosa murcha no meu quintal
e nela ainda fito beleza
é velha, surrada mas ainda brilha
pois seu caule repousa e ainda beija;
Há uma rosa morta no meu quintal
mas não tão torta que eu não possa consertar
cortar o talo e na água cultivar;
Não há mais rosa no meu quintal
há um vaso no centro da minha mesa
e deste jarro sucumbem pétalas molhadas
tal qual o caminho que me leva à jardineira.

O Que Há

Ocorre que há muito em mim, mas não sei se essa pele embaixo da roupa e esse coração embaixo da pele é o suficiente. E eu não sei lidar com essas adequações de sinônimos por onde circulam minha poesia.
Há um lote capinado e um jardim, mas que não está regado. Inúmeras tensões e veias que mais parecem arames farpados.
Quem me toca se fere. É assim que começa.
Não há nada que me conjure. No entanto, perco o controle, causo discórdia, faço baderna e me meto de volta dentro de mim. Presa, porque quero silêncio e paz.
Remedio no entanto, que uma dose de veneração pelas minhas camadas, me martiriza de forma a adotar ser sádica e conciliar-me com temperamentos impróprios em outras linhas de juízo. Todavia, prefiro que me falte o escopo, que meus ossos quebrem, minhas unhas caiam, minha pele seque. Assim como as serpentes, preciso me violar.
É o novo tecido que dirá se ainda serei facínora ou se tudo mudará.
Anseio que eu seja minha. Tão minha que me faça amar cada desígnio como se não coubesse mais nada no infinito que habita estas instancias. Isso é ceder para que eu possa crescer, para que eu possa ver e ouvir a mim mesma.
E ser finalmente, eu.

Pesadelo

Deitas em meus braços ao cair da madrugada
Que devoro a tua pele com minha sombra imaculada
No arder do desfrutar, dou-te um beijo a oferecer
Um gole do meu veneno para que possas morrer!
E em deleite te derramas feito vinho do gargalo
Prostituta vigorosa, se desmancha em palidez
E de amante vira estranha, do amor a escassez;
Não te atrevas a estender-te para mim
Não me convences a salvá-la com tuas mãos
Nem que elas fossem o teu próprio coração
Pois amor só se aproveita o florescer.
Que teus olhos fechem distante dos meus
Que o inferno te receba em sofrimento
Oração de vingança e de desprezo
Enquanto a morte goza do meu pensamento.

Poetas

"Não pensais vós que poetas sangram somente por amor. Poetas sangram pelos dedos. 
E eis o único motivo: toda a tipografia que de suas mãos escorre, a vida que se resvala à cada epístola, pela linhagem daqueles que escreviam e que foi sugada pelo ofício, cédula por cédula, herdamos os créditos e atribuímos os fiascos dos mesmos que choravam pelas palavras do abecedário, apenas pelo desejo de serem ilustres.
Não pensais vós, que poetas foram apenas amantes, eles foram aqueles sem coração, os que de nada sabiam sobre paixão; escreviam seus goles de vinho como hábito. Não tinham quaisquer pretensão de serem admirados pela árdua inspiração de uma donzela.
Poetas são sujos, grosseiros, desprezíveis, imorais.
Poetas não amam como dizem a multidão."
- Não é dia do Poeta, mas adoraria dedicar esse texto a vocês, Poetas.

Tragos

cá estou eu, contrariando a menina de dez anos atrás. com um cigarro na boca, inalando envelhecimento precoce, com o cabelo curto e curtindo Rock in Roll.
fazendo pactos com demônios de outras religiões. debatendo assuntos não fundamentalistas.
cá estou eu, inverso do que inventaram de mim.
cá estou eu. mulher. crescida. falante - são meios de me escolher.
cá estou eu. e outras de mim. e eu. e eu de novo.
eu.
eu estou aqui.
já não estou?